segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Regresso de férias

Mudança de poiso laboral e súbita vontade de não me apresentar de calções e socas de amortecedores.
Pensei eu: "É o gerar de novas vidas, merda respeitável, quase mágica, que merece alguma deferência. Hoje vou deixar de ser um azeite da pior espécie e vou honrar a porca da bata que me emprestaram e que, no final do ano, gamarei porque gosto das cores e composição estética do símbolo."
Vesti calcinha preta sem ser de ganga, estilo velho, t-shirt grossa branca-creme com estampa de classe, calcei os Bikkembergs envernizados, aprumei na escovagem dentária e no alinhar do cabelo em direcção ao cosmos e cortei as unhacas tarrentas rentes. Até banho tomei. E perfumei sovacos e pichota.

O charme era tanto que o brilhante Sol se envergonhou e escondeu os raios por detrás das fofas nuvens com a minha aparição fora do prédio. Os olhos viravam à minha passagem, as multidões paravam em contemplação, a Entidade Pública Empresarial gelou - ou não, mas um indivíduo tem de viver um pouco nas criações mentais próprias quando tudo o resto escasseia -.

Apresentações, definição de horários e toca a fazer figura de corpo presente - e preenchedor de requisições analíticas - nas consultas.
Que há de errado com a terra do Pinhal? Grávidas de 17 e 18 anos... pela 3a vez. Uma, duas, três; que realidade é esta? Retrocesso temporal? Onde ficou a máquina do Tempo? "É o quarto que levo a termo. Mas já botei uns oito abaixo! E vou dar este a quem precise." E a máquina da inteligência mínima ou uma betoneira para lhe encher as entranhas de betão armado? Já agora, uma mangueira? Senti-me a viajar no Tempo novamente quando a primeira consultada do dia se livrou do cuecão, recordando-me o odor corrosivo do memorável episódio deste sábado passado quando vomitei copiosamente álcool e azeitonas e carne e feijão e bases de pão e massa folhada feito menino de secundário.
Para quê tanto trabalho? Até o próprio acto de criação está carcomido na sua beleza e dignidade, fruto das mudanças supersónicas que gentes e mentalidades atravessam. Não me merecem cuidados e paciência.

Amanhã regresso e, de novo, com indumentária diferente: botas de borracha e um capote de oleado para não me deixar atingir, física e imaterialmente, pela decadência e burrice eventualmente infectocontagiosa.

1 comentário:

Catsone disse...

Meu caro, gostei do post, como sempre muito ilustrativo.
Quanto a terra do pinhal, não era nada que eu já não tivesse dito antes... mas há excepções!!!