segunda-feira, 21 de julho de 2008

Quando a vontade aperta

Há tradições que têm de ser mantidas (e terminadas hoje, porventura, que me despeço destas lides): dia de Urgência Pediátrica é sinónimo de sagrada escritura para que Vossas Excelências possais alimentar, sob a forma de estímulos despolarizantes, a vossa selecta via mesolímbica.

Hoje deixo-vos um episódio atribulado - para não faltar, uma vez mais, à tradição- de forma a que dele retirem algum ensinamento que vos possa servir de pedra basilar às vossas estabilidade e postura sociais daqui em diante, que acordei com espírito de profeta (e também com um portentoso cajado, em abono da verdade, mas não afastei águas nem bordas sequer) e antevejo muitos de vós em similar situação.

Pois bem, num dos poucos contactos sociais extrahospitalares, fui até um bar marroquino, conhecido pelos diversos chás e cachimbos de tudo o que se imagine menos de água, e, como português brejeiro convicto que sou (especial atenção à parte do brejeiro, que o facto de se ser português não constitui motivo de orgulho para pessoa alguma com o mínimo de discernimento), pedi uma Água das Pedras. Fantástico e rasgado sorriso observar aquele marralhal de modinhas a agoniar com a temperatura das infusões nesta época de calor e eu, de cu refastelado no puff (mais tarde alongando os lombares que a treta dos assentos "marrecos" nos torna de facto nisso mesmo, para além de serem pródigos em criar majestosas escolioses), a arrotar animalescamente com a fresca água carbonatada. Ora, juntado a dita à ingestão de quase 3 litros de água no ginásio mais um copo de leite em casa com ausência de micção, o resultado é, como mandam as ancestrais leis de Murphy -conhecidas, paralelamente, por "leis-da-filha-da-putice"-, uma imperiosa urgência miccional, daquelas que condicionam desvio patelar externo tal é a compressão de um joelho contra o outro e um agarrar subtil do prepúcio para que nenhuma gotinha escape do balão epidérmico usado como reservatório de mijo, a meio-caminho entre o carro e o tal antro de fumo.
"É hoje!, é hoje que as calças e sapatas encolhem com a lavagem a quente!"
E lá comecei a prova de marcha Olímpica, entrecortada por breves pausas para inspirar profundamente e fornecer oxigénio extra à contracção de todos os músculos da região pudenda e nalgueira, até que, qual miragem - seria efeito retardado do ambiente anterior? Afinal não, real era-, vislumbro um caixote do lixo, daqueles abertos, em forma cónica sem vértice, encastrado numa armação metálica verde, mais alta que o caixote propriamente dito, com barras espaçadas, verticais, que não primavam pela higiene, sarapintadas de restos de pastilha elástica, banana desfeita e escarra de velho ou gentil e prestável arrumador de automóveis, e penso: "Tem de ser! Faço agora jus à nacionalidade e mijo já aqui!"
Evitava assim saltar taipais das obras circundantes, mostrar a pila ao teimoso casal de paneleiros que trocava avidamente saliva ou regar o botim.

Se bem o pensei, melhor o fiz: desaperto num ápice os botões das vestes, puxo da gaita-de-beiços e, fruto da baixa estatura, encatrafio-a por entre duas benditas barras metálicas da maldita armação para conseguir mangueirar o interior do pote, esvaziando de uma vez bexiga, ureteres e rins, dilatados até Almeida.
"Que alívio orgasmóide sem cefaleia posterior", salta-me à ideia; "Melhor que espancar o macaco..."

Segundo problema da noite surge de pezinhos leves, quase despercebidamente: o besugo, sentindo a fresca brisa nocturna, começa, contracorrente, a ter um aspecto dilatado e tumefacto -muito embora mais bonito após a participação no "The Swan", pois está claro- e, mal dou por ela, tenho a vara agrilhoada, impossibilitada de se soltar sem recurso a um serralheiro e substancialmente dolorosa pela constrição condicionada pela estrutura ferrosa!
Como a miséria gosta de companhia e um mal nunca vem só, enorme êxodo de turistas rua fora, rindo, grunhindo compulsivamente em dialectos bárbaros e tirando fotografias!
Era urgente ver-me livre daquele aperto, daquele posto de entertainer ou palhaço, em Português, sem tempo para que a Natureza seguísse o seu curso e o berlaite acalmasse por si (não estou plenamente confiante que tal acontecesse face à cock-ringalhada entúlhica).
Investi enérgica, violenta e repetidamente contra o receptáculo de lixo e fiz dele o receptáculo do amor. Fodi um caixote do lixo, carago! Os implacáveis fotógrafos vão para os seus nórdicos países todos satisfeitos e eu, e dado que não me confesso há muito já e sou temente ao castigo divino, confesso-me aqui e agora, satisfeito fui também para casa que foi bem melhor do que aparenta à primeira leitura.

Os únicos "senão", e é isto que pretendo que retenham, foi que tive de dar um beijo de despedida ao contentor - nunca se envolvam sexualmente com um parceiro que não considerem particularmente atraente- e, cada vez que vou mictar, ainda me cheira a camião de recolha de resíduos urbanos.

Uma dúvida colossal me assaltará da próxima vez: faço o sacrifício de beijar ou rego os pantalones?

Lover boy...

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