sexta-feira, 11 de julho de 2008

A pior merda do Mundo

Poderia este escrito referir-se a uma qualquer música de Paris Hilton mas descobri, expendendo a minha saúde olfactiva em tal teste científico, algo bem pior, por muito que isso vos pareça extravagância minha.

Encontrava-me, recheado de boas intenções e de mais fome ainda, nos preparativos para uma monumental omelete quando, já com quatro ovos no pote onde seriam espancados por um guloso garfo, racho um quinto que, e felicidade a minha!, vinha com, à saudosa maneira dos Kinder mas desta feita sem ovinho amarelo, surpresa de projecto de pito morto. Uma pasta gelatinosa embrionária de coloração verde-bílis afogada num líquido verde-petróleo -ainda estou para decidir qual das pomposas cores escolherei para pintar a cozinha, imortalizando assim este episódio- que me compeliu, sem demoras de um par de segundos sequer, a botar para o caixote aquela amálgama de carbonato de cálcio com visco abjecto num lançamento em gancho, estilo Kareem Abdul-Jabbar, que de facto rendeu 2 pontos na tabela de pontuação de encestamento de detritos. Corri a fechar o saco com um nó bem apertado e de precisão cirúrgica, tendo passado não mais que uma mão-cheia de segundos desde a brecha cascóide à colocação do saco na varanda. Daria um daqueles records de merda que por vezes se lembram de cogitar e publicitar nos telejornais.

"Tudo tranquilo", pensei; "Mais rápido que o sr. Luke a sacar dos revólveres, não há bodum que tenha tido tempo de se libertar".
Redondamente enganado! O cheiro mais nauseabundo de que a História reza começa, incipiente mas firmemente, a tomar o seu lugar de destaque até que, meio minuto depois, toda a divisão domiciliária tresandava àquela bodega. Que demoníaca fragrância, por Júpiter! Panaceia para a fome, pois está claro, que ovos nem vê-los já; mas as pernas têm de ser alimentadas e, em recurso extremo, abre-se o pote de concentrado proteico e junta-se um pouco de leite a uma porção do mesmo. Refeição enlatada no mais moderno senso da expressão.
Fogem-me as ditas gâmbias, subrepticiamente, para a sala, com mais um pote de salada nas amigas mãos, e abanco para desfrutar de tão grandioso pitéu.
Eis que o tenebroso nevoeiro organoléptico invade suavemente a divisão contígua, onde me preparava para manjar divinamente... Salta de rompante o pobre -e até então refastelado - companheiro de aventuras laborais e destas do sofá e profere palavras de ordem com assaz eloquência em decibéis suficientes para acordar Camões: "Puta que pariu, que pivete de merda é este?! Puta que pariu! Puta que pariu!"
Como bom amigo, aconselhei-o a retirar a roupa do estendal da cozinha e, ao cruzar a linha divisória, a poética declamação inflama e atinge proporções epopeicas que, a par das instaladas e mútuas náuseas, me faz rir como não ria há muito, estupida e perdidamente!
"Quando estás enterrado em esterco até ao pescoço só te resta rir e cantar; Sal e pimenta no cu dos outros no nosso é refresco" Nunca haviam feito tanto sentido!
Lacrimejante e ofegante de tanto rir, engulo de um trago a refeição e, ao inspirar mais profundamente, luto titanicamente com o reflexo gregoriano: o fedor era agora colossal, açambarcava-nos as mais ténues terminações nervosas e esgravatava impacientemente as portas dos quartos que entretanto, e vá-se lá compreender porquê, se fecharam!

Para grandes males, grandes remédios!: munimo-nos de hercúlea coragem e emboscamos a varanda. Triste espectáculo do pecado capital que se inicia pela consoante "P": um punhado valente de sacos pretos com interior geração espontânea, certo estou, de bicharada larvar e esvoaçante, mais uns poucos entulhos e uma caixa de batatas greladas a que nem os ratos com mola no focinho pegavam!...

Ah Beifica!, sacos do lixo à obra, pouco pensamento acerca da corrosividade e potencial carcinogénico daquilo que manuseávamos, corrida para o elevador e, daí, para os contentores mais próximos! Necessário muito auto-controlo para não decepar as gadabunhas na esquina mais a jeito depois disso...
Restava a bi-tarefa de lavar mãos e antebraços mais o pegajoso varandim, desempenhada com notável mestria.
O elevador, esse, infrequentável nos próximos dias, foi enviado para o quarto piso...

Quanto ao odor, não cedendo a lixívias e patchouly diversos, embalar-nos-á carinhosamente com requintes de malvadez. Fantástico, fantástico!

A diferença entre nós e o João Rambo é a fita.
O facto de, mesmo na selva, ser menos marrano que as nossas pessoas está em estudo ainda.









VS.

1 comentário:

Catsone disse...

Estou a ver o outro a saltar e a te chamar nomes. Porra de aventura!
Esse ovo foi um presente do Demo pra ti!
Nota bem se, quando fizeste o gancho, não usaste a tabela para "encestar". Imagino o ovo (e o nado morto) a embaterem na parede antes dos dois pontos.