terça-feira, 16 de junho de 2009

Orientando, parte #2

Pequim, 08 de Junho de 2009

Por muito que quisesse dar notícias de deixar alguma inveja no ar, na China continental o acesso à internet é feito através da chamada "The Great Wall of China", trabalhando nessa gigantesca muralha de controlo cerca de 600000 pessoas diariamente, de forma a que o acesso a diversas páginas esteja truncada e que toda a informação enviada seja perscrutada (desta forma, perdoem-me se alguns milhares de chinocas ficaram a saber que, aos sortudos a quem escrevi e-mails, sois umas meretrizes e rabetões descomunais!), sendo o blogspot uma das que recebe carimbo vermelho por parte dos amigos de Mao; mais, bastantes pesquisas no Google e afins produzem zero resultados, se não experimente-se Tian'anmen ou derivados... Numa China mais que globalizada, o acesso a variada informação é tudo menos possível... Adiante!

Zhuhai foi a transição tanto em termos de espaço físico como de tempo entre a vista e revista Macau e o mundo chinês, não havendo nada a destacar na nossa curta estadia nessa "pequena" cidade (1,5 milhões de habitantes, dados de 2004, tanto quanto podem ser exactos naquela parte do Globo) a não ser o colossal e contrafeito mercado no subsolo e a interminável distância que separava o barato, em bitola europeia, e muito razoável hotel, sito a um milhar de metros da fronteira que, ao ser cruzada, não nos brindou com a sensação esperada de mistério e místico desconhecido, quiçá por grande culpa do mar de gente que a cruzou connosco, e o aeroporto. A viagem, por artérias de 4 e 5 faixas em cada sentido, demorou uns angustiantes 45 minutos entre poucas paragens em semáforos e os 140 km horários que o homicida-suicida (posteriormente vim a saber que tal se aprende nas escolas de condução - será que as há? - chinesas) motorista imprimia ao corroído Jetta, moradia de contentes baratas, simpáticas que eram em fazer questão de nos brindar com uns "olás" na mala e tablier. Viajar na China é uma aventura aterradora, feita sem regras quaisquer de ultrapassagem, sentido de rodagem, de cruzamento e prioridade, do mínimo do escasso civismo europeu, que mais tarde, embora cedo, aprendi a tolerar sem sobressaltos (tão) frequentes e uma grande camada de resignação. O que é um facto é que, por muito temerário que seja o caos automobilovelocipédico, acidentes são raridade. Serão formatados também para comunicar telepaticamente?
Ligeiramente abanados e agitados como uma garrafa de Compal, após três milenas e meia de turbulentos kms, aterrámos em Pequim: casa de 13 milhões de habitantes, a primeira cidade que comporta acima de um Portugal em termos populacionais do meu currículo... O aeroporto dá para lá meter dentro umas boas cortes e cortelhos alinhados e arrumar uns poucos fardos de palha à sombra, longe das agruras torrantes do astro-rei e dos vendavais que os desmancham, com 1.3 milhões de metros quadrados; a viagem de 1,6 euros até aos 20 anos e 1 dia de Tian'anmen demorou quase uma hora na vida de um autocarro bastante diligente.
Levados pela necessidade, deixamo-nos "levar" por um molho de taxistas, já com o preço inicial reduzido a metade, que cá tudo se regateia, até comida, que se ficam a rir por nos conduzirem ao longínquo albergue por o que vale, individualmente, um pacote de pastilhas-elástica com sabor a melancia...
Malas pousadas, segue-se para o "Temple of Heaven" que se estende até perder de vista, muito arborizado, com ar respirável apesar de um Sol tímido que vai espreitando, a medo, por detrás de um biombo de smog, e com as típicas construções de fotografia, de qualquer das formas imponentes e de deixar a mandíbula caída e a máquina a gritar por alcalina bateria, que ansiávamos visitar. Quianmen seguiu-se na lista, simpático e pacato local para saborear os últimos acepipes do dia e ala que está findo o dia, avizinhando-se o catecolaminizante raiar do dia seguinte de ida às Muralhas.
Epinefrina e norepinefrina extra da viagem, em decrescentes doses, tal como numa montanha-russa a que nos habituamos, equilibrada pela serotonina do primeiro contacto visual com a envolvência: morros até onde a vista alcança, teleférico para cima, toboggan para baixo... We'll take the stairs, of course!!
Escalada penosa para a grande maioria, com considerável acumulado métrico vertical a cumprir, deliciosa para o meu par de pulmões entorpecidos , desejosos de respirarem verdadeiramente, e para os gastrocnémios, saudosos de exercício; degraus dois-a-dois, coração cada vez mais em excesso de velocidade pela emoção antecipativa de colocar o pé pela primeira vez naquele pedaço de História mirabolante, lanço atrás de lanço e... fabuloso!, só eu e um afável velho vendedor de água e bananas que faz todos os dias cerca de 15 kms por aquelas escarpas acima e abaixo, carregando os duros enérgicos ossos que nem um burro. Cedo se povoa aquilo e cedo rumo à direita, ponto final mais próximo da parte visitável.
Não me cabe na imaginação como foi possível erguer tamanho monumento durante os milhares de quilómetros que a constituem em locais tão inóspitos e inacessíveis... Mas com indescritível deleite para a retina e psiqué, contudo, respondendo em conformidade músculos e glândulas sudoríparas.
Atinjo o fim do permitido, vou mais além, não sendo o único saltitante transgressor. Pena o nublado do dia mas compartilharei abaixo algumas das fotos possíveis de tirar, já que a sensação de alegria, essa, mais difícil é de vo-la transmitir. Volto atrás, sempre em velocidade-cruzeiro, parando para mais meia-dúzia de fotos aqui, meia-dezena ali, alcançando os colegas de aventura, por fim, aqueles que rumaram inicialmente à "esquerda". Fazemos o resto do percurso, parte descendente inclusivamente, juntos, todos com um brilho de maravilha e deslumbrada realização; não plenos, contudo, que o tempo sobrante não permitia a escalada final, quase vertical, altiva, que se nos impunha.
O "Silk Market", local gigante, mais um, onde regatear peças contrafeitas não me merece extensas palavras depois disto...
O dia seguinte começou chuvoso, uma daquelas trovoadas de Murphy para tentar arruinar o esquema... Verdade que os ânimos esmoreceram mas rapidamente nos sujeitámos a frio duche com a "Cidade Proibida" na mente e bilhete de metro no bolso. Apesar da intempérie, é fabulosa a visão e, mais, a tamanha extravagância para um só ser. O mesmo teço em relação ao "Summer Palace": cada travessa pintada manualmente, cada recanto cuidado, cada monumental construção de fazer inveja aos deuses ocidentais, tudo para Imperador e família lá passarem uns dias no Verão... Grandioso, umas centenas de anos volvidas e esses "pormenores" postos de parte.
À saída, constatamos novamente que taxistas são taxistas (em Mandarim, philhás-de-putah!) em qualquer ponto do Globo: recusaram-se a levar-nos pois sabíamos o custo real da viagem. Uma caminhada de uma hora pela frente, portanto, agradável mas a somar ao cansaço que se ia acumulando; sorte, a chuva havia cessado. O Complexo Olímpico ficava nas "redondezas" e a magnificência não destoava do nos vínhamos a habituar...
Altura de me "isolar" do grupo, contrafeita que seria também um nova ida ao "Silk Market", movo-me por Pequim sozinho, qual abelha numa majestosa colmeia; uma abelha inundada de estrondosa sensação de liberdade e coberta de odores de levar ao vómito.

Muda a minha opinião preconcebida e ignorante do povo chinês: são, maioritariamente, bons e amistosos anfitriões. São, também, a par e passo, uma engrenada máquina de construção incessante e uma enorme máquina ceifeira, deixando um rasto poluído de assassínio terrestre no cerne de uma sociedade globalizada e, estou em crer, brevemente globalizante.

Com admiração e, ao mesmo tempo, vontade de um holocausto de mentalidades (pelo menos) pouco autoconservadoras, rumaria até ao próximo destino: Xi'an.
































2 comentários:

A Gaja do Bin disse...

Caro Badmadafaka
tenho que deixar expressa a minha admiração ao visitar o teu blog. Armando-me em psicanalista de trazer por casa, diria que por baixo dessa capa de latino macho man que cospe no chão que tão orgulhosamente exibes, esconde-se uma alma de poeta, qual Baudelaire, ou de romancista, ao jeito de Eça de Queiroz...
Muito me apraz conhecer esta tua outra faceta! Parabéns pelo blog!!!
Respeitosos cumprimentos meus e um taua do Bin...

Badmadafaka disse...

Oh Ex.ma Sra. Gaija do Bini, esse Home de Portugal!
Muito obriaodo pela sua visita e comentário, isto partindo do princípio que nem um nem outro dos referidos autores tenham sido panisgas!

Um grande beijinhos e dedo no cu ao Home!